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Estudo aponta dados das condições de pessoas na Cracolândia

Estudo apontou que a maioria das pessoas entrevistadas que vivem em situação de rua são homens negros (cis e trans), representando 66% da amostra.

03/03/2025 às 14h28
Por: Redação Fonte: Agência Dino
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Em estudo divulgado, com nome Cracolândia pelos usuários, e publicado pelo Núcleo de Estudos da Burocracia da Fundação Getulio Vargas (NEB/FGV), o Centro de Estudos da Metrópole da Universidade de São Paulo (CEM/USP) e também o Grupo de Estudos (in)disciplinares do Corpo e do Território (Cóccix), foi apontado que a maioria das pessoas entrevistadas que vivem em situação de rua são homens negros (cis e trans), representando 66% da amostra. Em seguida, estão as mulheres negras (16%) e os homens brancos (14%). O levantamento também identificou a presença de duas mulheres brancas, um homem indígena e um homem amarelo. Todas as pessoas transexuais entrevistadas eram negras, sendo três mulheres e um homem.

Conforme os dados divulgados, 81% dos participantes se identificaram como homens cisgêneros, enquanto 14% se declararam mulheres cisgêneros. Em relação à cor ou raça, 81% afirmaram ser negros, enquanto 16% se declararam brancos. Além disso, a autodeclaração de negritude apresentou variações, incluindo termos como pretos, pardos e morenos, refletindo diferentes formas de identificação racial entre os entrevistados, de acordo com a publicação.

No que diz respeito à faixa etária, o estudo apontou que 78% dos respondentes têm entre 30 e 49 anos, demonstrando uma predominância de adultos na amostra. Além disso, 13% possuem entre 20 e 29 anos, enquanto apenas quatro participantes relataram estar na faixa dos 50 anos. O estudo também identificou duas pessoas com idade entre 18 e 19 anos e uma com mais de 60 anos. Duas pessoas optaram por não divulgar sua idade.

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Em termos de escolaridade, o levantamento revelou que 38% dos entrevistados concluíram até o ensino médio, sendo que quatro deles também obtiveram diploma de curso superior. Já 62% dos entrevistados apresentaram níveis de escolaridade mais baixos, distribuídos entre aqueles que completaram o ensino fundamental I (28%) ou o ensino fundamental II (26%). Outros 8% relataram não terem estudado ou não terem concluído o ensino fundamental I, conforme divulgado no relatório.

O estudo também analisou a condição de moradia dos participantes, revelando que 96% deles se consideram em situação de rua. No entanto, nem todos dormem nas calçadas. Cerca de 69% relataram dormir efetivamente na rua, enquanto 16% afirmaram dormir em outros locais, como pensões ou centros de acolhida. A publicação também apontou que, outros 16% dos entrevistados não informaram onde passam as noites, mas declararam viver em situação de rua.

Sobre o assunto, Miler Nunes Soares, médico psiquiatra e responsável pela Clínica de Recuperação de Drogas Granjimmy, afirmou que o estudo reforça a complexidade da realidade enfrentada por pessoas em situação de rua, especialmente no que se refere ao perfil sociodemográfico e às condições de moradia desses indivíduos. Miler continuou dizendo que como especialista em tratamento para dependência química, é fundamental observar como esses dados influenciam a formulação de políticas públicas voltadas à reabilitação e reinserção social. “Programas de reabilitação precisam ser planejados para atender às especificidades desse público, garantindo acolhimento adequado e estratégias que promovam autonomia e estabilidade”.

Outro aspecto abordado pelo estudo foi o tempo de permanência na rua e na região da Cracolândia. De acordo com os dados, a maioria das pessoas entrevistadas vive em situação de rua há entre 5 e 10 anos (36%). Já 21% afirmaram estar nessa condição há 11 a 20 anos, enquanto 14% declararam viver nas ruas há mais de duas décadas. No que se refere à presença na Cracolândia, 40% dos entrevistados frequentam a região há 5 a 10 anos, e 20% afirmaram estar lá entre 1 e 4 anos.

Perguntado sobre o estudo, Miler Nunes disse que é crucial que os centros de tratamento ampliem sua atuação, indo além do acolhimento emergencial e oferecendo suporte multidisciplinar que contemple saúde mental, capacitação profissional e encaminhamentos habitacionais, como acontece na unidade da Clínica de Recuperação em Mato Grosso. “A pesquisa traz um panorama importante para nortear políticas públicas e iniciativas privadas que busquem soluções efetivas para o tratamento da dependência química”.

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