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Empoderamento nos ares: Conheça a capitã Letícia, PM que pilota avião

No Dia das Mulheres, Letícia Escobar fala como é ser a única mulher piloto de avião na equipe e que acredita que as mulheres estão mais reconhecidas

Neste dia 8 de março, é celebrado o Dia Internacional das Mulheres. A data lembra o ano de 1857, quando 129 operárias de tecelagem, em Nova York, entraram em greve, reivindicando melhores condições de trabalho e redução da jornada diária, de 16 horas para 10. Mesmo com a data que menciona sua importância, as mulheres enfrentam muitos preconceitos em algumas profissões, que são “taxadas” como apenas para homens, como a de piloto de avião. Sendo sempre a única mulher nos lugares onde trabalhou, a capitã PM Letícia Escobar, piloto de avião, atuante na CGPA (Coordenadoria-Geral de Patrulhamento Aéreo), afirma que hoje as mulheres já são mais reconhecidas na profissão aérea e podem trabalhar onde quiserem, só precisando de dedicação e saber mostrar seu valor. Mesmo sendo difícil a formação, desistir nunca foi opção para ela, que hoje é piloto de aeronaves monomotores e em breve concluiu o curso para multimotores.

Na infância, Letícia, hoje com 37 anos, teve seu primeiro contato com aviação ao lado do pai, que também é piloto e a incentivou a seguir a profissão. Ela entrou na polícia em 2008 no curso de soldado. Em seguida, ingressou no curso de formação oficial, se formou em Direito e fez Academia de Força Aérea, na Bahia. Após esse processo de formação, ela retornou para Mato Grosso do Sul, trabalhou em Campo Grande e Corumbá e, em 2020, se formou no curso de piloto privado para aviões monomotores. Atualmente, Letícia é capitã PM na CGPA.

Natural de Campo Grande, a capitã PM teve outra inspiração para seguir carreira na aviação, além de seu pai, a piloto tenente Coronel Katiane Almeida de Oliveira, que hoje está em Corumbá. As duas já trabalharam juntas, e Letícia a considera uma pessoa muito importante na sua escolha como piloto de avião. “Ela foi uma inspiração.”

Letícia foi a única mulher nos lugares onde atuou, tanto no curso quanto no trabalho. “Desde quando entrei na polícia, eu tive essa vivência de 80% do efetivo ser masculino.” Mesmo acostumada com a presença de colegas homens no trabalho, ela relata que sente falta de ter outras colegas mulheres na profissão.

Formação

Mulheres pilotos enfrentam muitos preconceitos ao longo da carreira, por ser uma profissão “masculina”, e cogitam até desistir da profissão, mas para a capitã, desistir nunca foi uma opção, mesmo precisando trilhar um caminho difícil. “A formação é árdua, têm momentos que fraquejamos, mas nunca pensei em desistir”, relata. Já em relação aos colegas de trabalho, em sua maioria homens, Letícia diz que é preciso ser paciente, pois muitas vezes eles não estão preparados para terem uma colega mulher. “O dia a dia dos homens é diferente.”

Em Mato Grosso do Sul, Letícia é uma das únicas pilotos de avião, mas acompanha diversas operações em outros Estados pelas redes sociais. A capitã destacou a polícia militar da Bahia, que há três meses realizou uma operação aérea e a tripulação era formada por mulheres. “Eu pensei: Nossa! Que marco!”, relata. Além da Bahia, Letícia também falou que recentemente, no Ceará, uma delegada se formou em piloto privado para helicópteros.

Com uma filha de um ano e dez meses de idade, a capitã PM conta que, com o peso da maternidade, que é maior para a mulher, no início da amamentação, o coronel e os colegas foram bem compreensíveis, a incluindo em missões mais tranquilas. Ela ainda destaca a importância da ajuda do marido, que também é militar e iniciou o curso para mecânico de aeronaves.

A rotina de Letícia, que enfrenta muitas viagens em missões, diariamente, planeja os voos e atua também na área administrativa, não é muito repetitiva. “Cada dia uma coisa diferente, converso com o mecânico da aeronave, se tem missão eu converso com o comandante, para planejá-la”, relata.

Antigamente, as mulheres pilotos não eram tão reconhecidas, mas a capitã afirma que esse aspecto melhorou bastante, “desde que eu entrei na polícia, em 2008, eu percebo que melhorou muito. Vejo mulheres já aposentadas que passaram por situações que nem me imagino passar.” relata. Para ela, a mentalidade dos colegas homens também melhorou e, por as mulheres serem minoria, se destacam e são reconhecidas por eles e pela sociedade em geral. “Eles querem me incluir nas coisas, me ajudar, me ensinar. Vejo que eles têm essa generosidade.”

Para as mulheres que desejam entrar na carreira de piloto de avião, Letícia destaca a importância do estudo constante, junto à experiência. “O principal é o estudo, mas a experiência de vida na missão e na aviação agregam muito. Para ter essa experiência na aviação tem que estudar”, afirma a capitã, que está estudando para ser piloto de aeronaves multimotores. “Se a mulher quer ser piloto de avião, só o querer já é um passo, aí é preciso dedicação”, aconselha.

Mulheres mecânicas na aviação

Mecânica de aeronaves há 25 anos, Rosiane Bernardo foi inspirada a entrar na aviação quando assistiu, na adolescência, o filme “Top Gun – Ases Indomáveis”, de 1986. Incentivada pela família, a mecânica estudou 18 meses em São Paulo na Cemah (Curso Especializado de Mecânico de Avião e Helicóptero). Para Rosiane, que se formou em uma turma só de homens, sendo ela a única mulher, a profissão é pouco divulgada, mas já está mais que reconhecida. “Vale ressaltar que na aviação todo serviço executado deve ser inspecionado, seja executado por uma mulher e inspecionado por outra mulher, executado por um homem e inspecionado por outro homem, ou executado por um homem e inspecionado por uma mulher”, reforça a mecânica.

A profissão cresce cada vez mais no meio feminino segundo Rosi. “Há mais ou menos uma década que já temos várias mulheres na aviação, em todos os setores, seja na engenharia, banco de prova, campo, em toda a parte burocrática.”

Para a mecânica, a aviação é um trabalho em equipe e a mulher que sonha em ingressar na área não deve olhar só os obstáculos. “Não desista, porque sonho não tem prazo de validade”, finaliza.

Por Livia Bezerra – Jornal O Estado do MS.

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